domingo, 4 de janeiro de 2009

As mudanças do acordo ortográfico (português do Brasil)

1. O retorno das letras “k”, “w” e “y”É na verdade um retorno oficial, pois elas de fato nunca deixaram de fazer parte do nosso alfabeto. Basta consultar nossos principais dicionários e ver que todos registram verbetes com “k”, “w” e “y”. E não há nenhuma mudança quanto ao emprego delas, que continuam a ser usadas:a) na grafia de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt);b) na grafia de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy, playground, yin, yang, Washington, William, Kennedy, Kafka, kafkiano, kardecista.

2. O fim do tremaO trema deixa de ser usado. Ele, porém, permanece nos nomes próprios estrangeiros e em seus derivados: Hübner, hübnerita.

3. Novas regras de acentuação- As palavras paroxítonas com os ditongos abertos “ei” e "oi" perdem o acento. Como é: idéia, geléia, bóia, apóie, apóiem, apóio (verbo), asteróide, heróico. Como será: ideia, geleia, boia, apoie, apoiem, apoio, asteroide, heroico.

Atenção: permanece o acento das palavras terminadas em “éis”, “éu(s)” e “ói(s)”: papéis, céu, troféus, dói, heróis.- O acento do “i” e do “u” tônicos precedidos de ditongo, em palavras paroxítonas, deixa de ser usado. Como é: baiúca, feiúra, cauíla. Como será: baiuca, feiura, cauila.Observação: O acento permanece em palavras oxítonas: Piauí, tuiuiú.- O circunflexo das palavras terminadas “oo” e “eem” deixa de ser usado: voo, abençoo, creem, deem, leem e veem.-

O acento diferencial de “pára” (verbo), “pêlo”, “pélo”, “pêra” e “pólo” desaparece. O correto passa a ser “para”, “pelo”, “pelo”, “pera” e “polo”.Atenção: o acento de “pôr” e “pôde” permanece.- O acento agudo de verbos como “apaziguar”, “averiguar”, “argüir” e “redargüir” deixa de ser usado. Como é: apazigúe, averigúem, argúem, redargúi. Como será:a)

Alguns verbos terminados em guar, quar e quir, como "aguar", "averiguar", "apaziguar", "desaguar", "enxaguar", "obliquar","delinqüir", admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e do imperativo. Nesse caso, duas grafias serão aceitas: se a tonicidade recair no "u", não haverá acento: aguo, enxague, delinquem; se a tonicidade recair nas vogais "a" ou "i" da sílaba anterior, elas serão acentuadas: águo, enxágue, delínquem.b) O “u” tônico de argüir e redargüir deixará de ser acentuado nas formas (tu) arguis/ redarguis, (ele) argui/ redargui, (eles) arguem/ redarguem.

4. Novas regras do hífen- Prefixos e falsos prefixos se ligam com hífen a palavras iniciadas por “h”: anti-higiênico, anti-histórico, co-herdeiro, macro-história, mini-hotel, proto-história, sobre-humano, sub-hepático, sub-humano, super-homem, ultra-humano.Algumas exceções – palavras formadas pelos prefixos des-, in- e re-: desumano, desumidificar, inábil, inumano, reidratar, reidratação, reabilitar.

- Se o prefixo termina por vogal e o segundo elemento começa pela mesma vogal, usa-se o hífen: anti-ibérico, anti-imperialista, anti-inflacionário, anti-inflamatório, auto-observação, contra-atacar, contra-ataque, micro-ondas, micro-ônibus, micro-organismo, para-atleta, semi-internato, semi-interno.Exceção – o prefixo “co”: coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante.

- Se o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento, não se usa o hífen: aeroespacial, agroindustrial, antiaéreo, antieducativo, autoaprendizagem, autoescola, autoestrada, autoinstrução, coautor, coedição, extraescolar, infraestrutura, plurianual.

- Se o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de “r” ou “s”, não se usa o hífen: anteprojeto, antipedagógico, autopeça, autoproteção, coprodução, geopolítica, microcomputador, pseudomédico, semicírculo, semideus, seminovo, ultramoderno.

- Se o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por “r” ou “s”, além de não haver hífen, dobram-se essas letras: antirrábico, antirracismo, antirreligioso, antirrugas, antissocial, biorritmo, contrarregra, contrassenso, cosseno, infrassom, georreferência, microssistema, minissaia, microrregião, multissecular, neorrealismo, neossimbolista, semirreta, ultrarresistente, ultrassom.

- Se o primeiro elemento termina por consoante igual à que inicia o segundo, usa-se o hífen: hiper-requintado, inter-racial, inter-regional, mal-limpo, sub-bibliotecário, super-racista, super-reacionário, super-resistente, super-romântico.

- Se o prefixo termina em consoante diferente da que inicia o segundo elemento, não se usa o hífen: hipermercado, intermunicipal, superproteção, subchefe, subsede.

- O prefixo “sub-” se liga com hífen a “b”, “h” e “r”: sub-bloco, sub-humano, sub-hepático, sub-região, sub-reino. - Os prefixos “circum-” e “pan-” se ligam com hífen a vogal, “h”, “m” e “n”: circum-escolar, circum-navegação, pan-americano, pan-mágico, pan-negritude.

- Se o prefixo termina em consoante e o segundo elemento começa por vogal, não se usa o hífen: hiperacidez, hiperativo, interescolar, interestadual, interestelar, interestudantil, superamigo, superaquecimento, supereconômico, superexigente, superinteressante, superotimismo.

- Os prefixos “ex-”, “além-”, “aquém-”, “recém-”, “sem-”, “pós-”, “pré-”,“pró-” e “vice-” ligam-se com hífen ao elemento seguinte: além-mar, aquém-mar, ex-aluno, ex-diretor, ex-prefeito, ex-presidente, pós-graduação, pré-história, pré-vestibular, pró-europeu, pró-reforma, recém-casado, recém-nascido, sem-terra, sem-teto, vice-governador, vice-presidente.

-Usa-se o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani “-açu”, “-guaçu” e“-mirim” quando o primeiro elemento termina em vogal acentuada graficamente ou em tônica nasal: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu, Ceará-Mirim, paraná-mirim.

-Não se usa o hífen em palavras que perderam a noção de composição: catavento, girassol, madressilva, mandachuva, paralama, paraquedas, paraquedista, pontapé, vagalume.Observação: Como o texto do acordo é muito vago, considere, neste primeiro momento, apenas essas palavras como as que “perderam a noção de composição”.

- A regra de “bem” com hífen não muda, continuaremos grafando “bem-humorado”, “bem-sucedido”, “bem-visto”. No entanto, algumas palavras perderão o hífen e ficarão unidas ao termo seguinte com o “m” virando “n”. Ei-las: benfeito, benquerer e benquerido.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Dissertação
Como escrever esse tipo de redação

Professora Marleine Ferreira de Toledo

A dissertação é o gênero de texto exigido dos vestibulandos em grande parte dos vestibulares do país - ou seja, se você quer garantir sua vaga em uma universidade, dificilmente vai conseguir escapar de aprendê-la.A professora Marleine de Toledo, formada em direito e letras pela USP, dá dicas sobre o assunto:

Como fazer uma boa dissertação?

A dissertação exige amadurecimento no assunto tratado, conhecimento da matéria, pendor para a reflexão, raciocínio lógico, potencial argumentativo, capacidade de análise e de síntese, além do domínio de expressão verbal adequada e de estruturas lingüísticas específicas.

Como começar uma dissertação?

Normalmente, o aluno de redação manifesta sua angústia: "Não sei como iniciar". Não sabe como iniciar, porque não sabe como desenvolver e como concluir, simplesmente porque não organizou um plano. Nas palavras de Boaventura, "o plano é o itinerário a seguir: 'um ponto de partida', onde se indica o que se quer dizer, e 'um ponto de chegada', onde se conclui. Entre os dois, há as etapas, isto é, as 'partes' da composição. Construir o plano é, em última análise, estabelecer as divisões".

Como estruturar uma dissertação?

No livro "Como Ordenar as Idéias", Edivaldo M. Boaventura resume muito bem aquilo que o bom-senso diz a respeito de todo o texto escrito: "A arte de bem exprimir o pensamento consiste em saber ordenar as idéias.

E como se ordenam as idéias?

Fazendo a previsão do que se vai expor". É preciso pensar nas partes do seu texto.Como você resumiria essas "partes" da argumentação?A argumentação deve iniciar-se com a apresentação clara e definida do tema ou do juízo que se tem em mente e irá ser comprovado. A "segunda parte" da argumentação destina-se a oferecer as provas ou argumentos que confirmem a tese. É comum colocarem-se os argumentos em ordem crescente de importância. A "terceira fase" consiste em exibir contra-provas ou contra-argumentos e refutá-los, isto é negá-los. Na "última parte", ou síntese recapitulam-se os argumentos apresentados e conclui-se, com a reafirmação da tese.
Pode-se dizer que a argumentação é uma demonstração?Se um limite da argumentação é a dissertação expositiva, o outro é a demonstração. Para Tércio Sampaio Ferraz Júnior, jurista e filósofo do direito, a demonstração fundamenta-se na idéia de evidência, que é a força perante a qual todo pensamento do homem normal tem de ceder. Assim, no raciocínio demonstrativo, toda prova consiste em uma redução à evidência. Já a argumentação abrange as "técnicas discursivas que permitem provocar ou aumentar a adesão dos espíritos às teses" que lhes são apresentadas. Portanto, como dizem Chaïm Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca em seu "Tratado da Argumentação - A Nova Retórica", não se deve confundir "os aspectos do raciocínio relativos à verdade e os que são relativos à adesão".

O que é dissertação argumentativa?

Na verdade, há dois tipos de dissertação. Podemos falar em dissertação expositiva, em que se expressam idéias sobre determinado assunto, sem a preocupação de convencer o leitor ou ouvinte. Já a dissertação argumentativa implica a defesa de uma tese, com a finalidade de convencer ou tentar convencer alguém, demonstrando, por meio dea evidência de provas consistentes, a superioridade de uma proposta sobre outras ou a relevância dela tão-somente.

Mais especificamente, o que é argumentação?

Uma argumentação é uma declaração seguida de provas. Pierre Oléron define o ato de argumentar como: "método pelo qual uma pessoa - ou um grupo - intenta levar um auditório a adotar uma posição através do recurso a apresentações ou a asserções - argumentos - que visam mostrar a validade ou fundamento daquela".

Qual a diferença entre argumentação e dissertação?
Nenhuma. A argumentação é uma dissertação com uma especificidade, a da persuasão. Dissertando apenas, podemos expor com neutralidade idéias com as quais não concordamos. Por exemplo, um professor de filosofia que não concorde com as idéias de Karl Marx pode expô-las com isenção, dissertando sobre elas. Mas se for um marxista convicto e quiser influenciar seus discípulos, tentará provar-lhes, com raciocínios coerentes e argumentos convincentes, que essas idéias são verdadeiras e melhores: estará, então, argumentando.

O que é preciso para argumentar?

Para argumentar é preciso, em primeiro lugar, saber pensar, encontrar idéias e concatená-las. Assim, embora se trate de categorias diferentes, com objetos próprios, a argumentação precisa ter como ponto de partida elementos da lógica formal. A tese defendida não se impõe pela força, mas pelo uso de "elementos racionais" - portanto toda argumentação "tem vínculos com o raciocínio e a lógica", como disse Oléron na obra já citada.